terça-feira, 13 de novembro de 2007

Concurso Textos e Cartazes da FAC - parte2

Agora como prometido, o texto premiado com o 2º lugar no concurso.

Artigo - Letargia Social

Fechei meus olhos, uma imagem escura apareceu em minha mente, tento achar alguma forma de luz, alguma lembrança, algum fato marcante para que eu possar voltar a desenhar em minha mente formas mais concretas de imagens.

Os sons dos carros, das motos, dos ônibus, das pessoas conversando, gritando, atrapalham meu minuto, minha escuridão tranqüilizante. Tento voltar ao meu descansar fantasmagórico, mas um som especial me chama atenção, me desperta da letargia que me encontro. O ruído é de uma criança, de um garoto, deve ter no máximo seus 8 anos. Está a desempenhar seu dever, vendendo suas balas nas conduções. Extrovertido, diferente de mim. Aparentemente feliz, ao contrário de mim. Põe em prática suas palavras, seu espírito levado de criança que encanta, que me faz recordar momentos inquietantes que minha memória prefere esquecer.

Por um momento me vejo naquele menino, sua expressão terna, sua voz meiga, um brilho no olhar que cristaliza minha alma, purifica meus instintos, dramatiza minha consciência, estigmatiza meu eu. Ah, pobre criança! Acorrentada a laços tão subdesenvolvidos, de um povo individualista. O que será de uma criança como aquela que tanto tem a oferecer e tão pouco tem a ganhar? Talvez nada, talvez esteja petrificada ao breu, à sombra. Oh, triste sina das crianças sem seus momentos infantis! Oh, triste sina de famílias despedaçadas! Oh, triste sina dos jovens sem destino! Oh, triste sina do povo humilde que não tem nada a oferecer, a não ser sua força de vontade. O que posso eu na minha letargia vã, de um sonhador sem utopias ajudar o destino de tal criança. Será que não posso em meus instintos mais selvagens encontrar um espírito de solidariedade para com meus irmãos?

Eu não tenho nada a oferecer, vivo jogado nas traças da sociedade por não ter nada a oferecer, senão minha nobre solidariedade e meu consolo de auxílio. Eu me chamo Francisco, mais pode me chamar de José, João, Antônio, Emanuel, Gabriel, Pedro, Paulo, outro nome qualquer, pois o que menos importa é o nome, pois já sou um ser sem ação.

Agora aquele menino que me faz lembrar fatos, momentos, que me perturbam recolhe seus saquinhos de balinhas que deu para os passageiros, junto com as poucas moedas. Agradecimentos são dados. As pessoas que contribuíram parecem satisfeitas com o seu ato generoso. Mas me pergunto, o que pode ser de ajuda a tal menino tão míseros centavos? Que sentimento filantrópico sente essas pessoas em ajudar aquele garoto? Será que pensam que vão salvar o destino daquela criança? Será que pensam que tudo vai ser revestido em pão? Será que pensam que centavos salvam vidas? Essas atitudes não passam de paliativos, doses traumáticas de humilhação e consciência.

Nossa vida toda é assim, doses paliativas. O governo é assim, doses paliativas de ajuda, de ética, de comprometimento nas ações. É muito fácil dosar paliativamente a solidariedade. Eu ajudo aquela instituição, estou fazendo minha parte. Ótimo. E a outra que ficou de fora desse espírito, dessa dose? Famigeradas doses paliativas de responsabilidade social.

O menino foi embora e estou ainda na minha letargia. O meu comprometimento é comigo, afinal também preciso de ajuda. Às vezes não tenho nem o que comer, ganho pouco, o que estou sentindo – doses paliativas da sociedade letárgica. Viva a solidariedade pagã! Viva a solidariedade! Viva os incentivos descompromissados!

Lembrei: solidariedade não tem idade, e desde quando o povo sabe o que é isso? Dar comida e pensar que está tudo indo bem, companheiro, não é solidariedade, é esmola. Esta letargia imunda que me abstrai a consciência.

Ah, eu não quero ser esta solidariedade para os pobres, eu quero é o respeito social dos abastados, dos intelectuais, dos poderosos. Este é o meio de sair dessa ilusória caverna psicodélica que só me lembra minha infância sem oportunidades que tanto quero esquecer. Esta mesma famigerada infância deste menino sem nome, ou melhor que fala o nome mas que minha curta lembrança dos fatos me fazem esquecer em cinco segundos.

Solidariedade, palavra que ecoa como uma loa, que me faz pensar em cadáveres respirantes da África, em indigentes, em choros agonizantes de minha infância que tanto quero esquecer, de pais e país sem voz, de promessas não cumpridas, de verbas desviadas, de sonhos perdidos, de uma esperança latente mas ainda letárgica que adormece nas irresponsabilidades sociais.

Ah, terra bendita mas amaldiçoada por corsários que só buscam o pão sem reparti-lo. Que consomem o vinho sem apreciá-lo. Consigo abrir os olhos, mas pra que adianta se a escuridão está na minha alma?

Descanse em paz solidariedade dos homens ou então renasça como fênix, brilhe no mais alto posto e coloque em prática os ensinamentos de ajuda, compreensão, amor, doação ao seu próximo. Ou então... Ou então pense você mesmo.

Concurso Textos e Cartazes da FAC

Depois de tempos sem postar nadinha, estou de voltar ao meu querido amigo blog. Desde já peço desculpas por não atualizar com mais frequência, a questão é que esses meses foram puxadíssimos.

Enfim a pedidos de colegas vou colocar aqui os dois trabalhos que fiz que foram premiados no Concurso Textos e Cartazes da FAC (Faculdades Cearenses). O primeiro é o cartaz que ficou em 3º lugar, no outro post coloco o texto. O tema do concurso era "Solidariedade".
Espero que gostem.